sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Pio XII explica a diferença entre "povo" e "massa"

Trecho da rádio-mensagem de Natal do papa Pio XII, em 1944:

Povo e multidão amorfa ou, como se costuma dizer, «massa», são dois conceitos diversos. O povo vive e se move com vida própria; a massa é por si mesma inerte, e não pode receber movimento sem ser de fora. O povo vive da plenitude da vida dos homens que a compõem, cada um dos quais — em seu próprio lugar e a sua maneira — é pessoa consciente de suas próprias responsabilidades e de suas convicções próprias. A massa, pelo contrário, espera o impulso de fora, joguete fácil nas mãos de um qualquer que explora seus instintos ou impressões, disposta a seguir, cada vez uma, hoje esta, amanhã aquela outra bandeira. Da exuberância de vida de um povo verdadeiro, a vida se difunde abundante e rica no Estado e em todos os seus órgãos, infundindo neles com vigor, que se renova incessantemente, a consciência da própria responsabilidade, o verdadeiro sentimento do bem comum. Da força elementar da massa, habilmente manipulada e usada, pode também servir-se o Estado: nas mãos ambiciosas de um só ou de muitos agrupados artificialmente por tendências egoístas, pode o mesmo Estado, com o apoio da massa reduzida a não ser mais que uma simples máquina, impor seu arbítrio à melhor parte do verdadeiro povo: assim o interesse comum fica gravemente ferido e por muito tempo, e a ferida é muitas vezes dificilmente curável.
Com o dito aparece clara outra conclusão: a massa — como nós acabamos de defini-la — é a inimiga capital da verdadeira democracia e de seu ideal de liberdade e de igualdade.
Em um povo digno de tal nome, o cidadão sente em si mesmo a consciência de sua personalidade, de seus deveres e de seus direitos, de sua liberdade unida ao respeito da liberdade e da dignidade dos demais. Num povo digno de tal nome, todas as desigualdades que procedem não do arbítrio, mas sim da natureza mesma das coisas, desigualdades de cultura, de bens, de posição social — sem menosprezo, é claro, da justiça e da caridade mútua —, não são de nenhuma maneira obstáculo à existência e ao predomínio de um autêntico espírito de comunidade e de fraternidade. Mais ainda, essas desigualdades, longe de prejudicar de maneira alguma a igualdade civil, lhe dão seu significado legítimo, quer dizer, que ante o Estado cada um tem o direito de viver honradamente sua existência pessoal, no modo e nas condições em que os desígnios e a disposição da Providência o tem colocado.

Texto completo em:
http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/speeches/1944/documents/hf_p-xii_spe_19441224_natale_sp.html (original em castelhano, traduzido por mim)

2 comentários:

Thiago disse...

"Povo", "massa", são conceitos - construídos, podem ser parecidos ou não, conforme quem os constroí.

"mas sim da natureza mesma das coisas, desigualdades de cultura, de bens, de posição social "

Existisse algo de "natural", nas desigualdades culturais, de bens, de posição social?

Será que as coisas são tão homogêneas assim?

Essas desigualdades não afetam a igualdade cívil - perante a lei?
Então é igual o que rouba porque morre de fome e o que rouba por falta de carater?

É esse pensamento de "querer ver as coisas" que faz com que você as veja desse jeito, o que não significa que "são" assim.
Existem outras formas de ver.
Somos diversos.
E não acho nada "amar ao próximo como a si mesmo", essas declarações que são, no mínimo, contra a pluralidade da existência humana.


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Evandro Monteiro disse...

Olha, caro Thiago, quem rouba por culpa da fome não é igual àquele que rouba por pura maldade.
Nada no mundo é igual, nem mesmo na natureza vemos o igualitarismo, basta ver a quantidade de animais que existem, os mais diversos tamanhos, feras do campo, bichos aquáticos, animais imensos ou seres microscópicos...
Com o ser humano é assim também, nem todos têm o mesmo talento: uns têm para cantar, outros para desenhar, outros para governar...
A massa é isso que vemos no Brasil, por exemplo.
Só se lembra de protestar contra alguma coisa quando o time de coração está quase rebaixado, ou quando a Seleção não joga nada na Copa.
Mas se é para reclamar porque existem falcatruas na política, aí ninguém diz nada.
Veja as músicas que tocam já há alguns anos: da maioria não se aproveita nada, e por quê?
Porque a massa, o "povo" gosta, são letras vazias, que só dão ênfase nas partes do coropo da mulher.
E por aí vai...