terça-feira, 27 de maio de 2008

O pós-concílio segundo a Veja

Apesar de a revista Veja não ser lá uma grande amiga da Igreja, este texto de 1968 mostra, no calor dos acontecimentos, as grandes dificuldades que o catolicismo enfrentava, principalmente aqui no nosso Brasil varonil. E o título é bem sugestivo: “Novas crenças na Igreja”.

Nessa reportagem estava estampada a preocupação de alguns clérigos, quanto ao futuro do rebanho católico:

Em 1958 havia 59 centros de umbanda em Salvador, hoje há mais de 900. De menos de 100 mil em 1953, os pentecostais brasileiros passaram este ano a mais de 3 milhões. No Rio de Janeiro há 150 templos católicos e mais de 3 mil centros de umbanda. Em 1965, Dom Pedro Koop, bispo de Lins, afirmava:

"A continuar assim, dentro de uma geração a Igreja se diluirá, por causa da crise de vocações sacerdotais; do crescimento demográfico; da proliferação de seitas paracristãs". Hoje diz Dom Koop: "Nossa previsão se confirmou. Acentua-se a marcha para o colapso: dentro de poucos anos, a maioria da classe média baixa e da classe popular das grandes cidades terá dado sua adesão ou aos cultos africanos ou ao espiritismo ou às seitas pentecostais e outras semelhantes". Acha Dom Koop que a Igreja não conseguiu enfrentar as rápidas mudanças da sociedade brasileira. Para 74 milhões de católícos, há no Brasil 12.500 padres; para 4 milhões de protestantes, os pastores são 40 mil. A solução de Dom Koop: aumentar o número de padres. Em 1960 havia mais de mil seminários no Brasil, hoje são 514.

No tocante à quantidade de seminaristas, os números também eram alarmantes:

CATÓLICOS, NÃO CATÓLICOS - O Padre Virgílio Uchoa, do Seminário de Gameleira, Pernambuco, calcula que menos de 10 por cento dos que se matriculam em seminários chegam a ordenar-se padres. E que cada dia menos rapazes se matriculam em seminários. Em 1913, o Seminário de Botucatu, São Paulo, tinha mais de cem altinos; em 1948 tinha sessenta; hoje tem onze. A crise de vocações hoje é mais sentida, mas sempre foi grande no Brasil. Nos Estados Unidos há 70 mil padres para 40 milhões de católicos; no Brasil, de 74 milhões de católicos, para que haja 12.500 padres foi preciso atrair mais de 5 mil padres estrangeiros. Agora são poucos os padres que vêm do exterior, porque há uma crise mundial de vocações. E a crise não é só de vocações: a cada ano, no mundo inteiro, 2.500 padres já ordenados abandonam o sacerdócio.

CASTIDADE, SEMINÁRIOS - "Que religião é essa, de padres que não querem a castidade?", pergunta a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, fundada em São Paulo em 1960 pelo Professor Plínio Correia de Oliveira. Mais de quinhentos padres brasileiros casaram nos últimos anos e tiveram as ordens suspensas. Centenas de padres da Guanabara, do Estado do Rio e de São Paulo pediram a abolição do celibato, apontado como causa da diminuição das vocações.

E já naquele tempo tínhamos a avacalhação (para não dizermos outra coisa) com o santo sacrifício da Missa:

PÃO E VINHO - Um grupo de rapazes e moças se reúne alegremente em torno de uma mesa: enquanto conversam, alguns molham um pedaço de pão num copo de vinho e mastigam o pão molhado, distraidamente. Assim é a Sagrada Comunhão na missa dos universitários, aos sábados, celebrada pelo Padre Antônio Henrique, no auditório da Arquidiocese do Recife. O Concílio, porém, só autorizou, na renovação da liturgia, a substituição do latim pelas línguas nacionais; outras mudanças só são possíveis se forem autorizadas, conforme o caso, pela Santa Sé, pela Conferência dos Bispos ou por um bispo. "Só alguns casos foram deixados à liberdade do padre celebrante", explica Dom Jaime Câmara. E dá um exemplo: "Ficar com as mãos mais estendidas ou menos estendidas e coisas assim". O Padre Antônio Henrique foi autorizado por Dom Helder Câmara a substituir a hóstia tradicional pelo pão comum, mas há um número crescente de padres que introduzem novidades sem pedir autorização ao bispo. Explica o Padre Haasen: "A reforma da liturgia aprovada no Concílio visou a uma participação maior dos fiéis, que não compreendiam o latim. Mas a reforma foi feita por bispos europeus. Na Europa, a esmagadora maioria dos católicos pertence à classe média bem-educada. Assim, para que um católico holandês entenda perfeitamente o sentido da missa, basta que ela seja rezada em holandês. No Brasil, porém, mesmo rezada em português, a missa não é entendida pela grande massa dos fiéis". Por isso, os padres tentam inovações, tocam Bach em missa no Espinheiro, o bairro mais aristocrático do Recife; iê-iê-iê (!) e bossa nova em Copacabana ou "Que Beijinho Doce" (!!) em Volta Redonda, enquanto os fiéis cantam nessas melodias letras especialmente compostas, que não são simples traduções dos salmos de Davi em latim, como os antigos cânticos.

(...)
O católico brasileiro começou a freqüentar a missa não por convicção, porque compreendeu seu sentido e o que ela representa para sua vida. Freqüenta por obrigação, sob a coação do pecado mortal. Uma renovação nesse setor não poderá ser puramente exterior, "fazer a missa mais bonitinha", com música mais moderna e alguma movimentação diferente - melhor embalagem para vender melhor a mercadoria. Em breve enjoará.
(...)
SABÃO E ENCANTO - Para a mesa de Deus, altar da missa na igreja de Ponte dos Carvalhos, na paróquia pernambucana do Cabo, os fiéis trazem pão, vinho, velas, flores, sabão e goma para as toalhas.(!) Sobre a mesa do Padre Geraldo Leite Bastos depositam comida e roupa lavada. Sobre a mesa do povo, dinheiro para quem precisar. Sanfoneiros acompanham a missa. Conta o Padre Bastos: "O Evangelho é explicado por um dos irmãos e debatido com todos da assembléia. No fim da missa, antes da bênção, os irmãos dão notícias de aniversários, falecimentos, visitas". (!!!!!!!)

Há quem veja Ponte de Carvalhos como modelo de comunidade de base, mas muitos fiéis não aceitam as novidades. Um caso extremo: o engenheiro carioca Marco Antônio, antigo monge beneditino. Ele explica por que abandonou o mosteiro: "Não sou contra a ascensão das classes baixas. Sou contra o nivelamento por baixo, que começou com as Revoluções Francesa e Russa e agora atinge até a Igreja. A Igreja sempre chamou para o alto. Seus símbolos e suas cerimônias tinham em si qualquer coisa de divino, de elevado. Tinham o encanto de uma dignidade perdida. Agora a Igreja se despoja de todas essas coisas".

E por aí vai...

E isso há quarenta anos!

Que dirá agora...

A impressão que dá é que a tendência é piorar!

Valei-nos Deus!

Valei-me minha Nossa Senhora!

* * *

Fonte:

http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_18091968.shtml

Um comentário:

Anônimo disse...

Peço-lhe se possível inserir o link do Blogs Católicos. Desde já obrigado!

Um abraço fraterno em Cristo!


guiablogscatolicos.blogspot.com