segunda-feira, 19 de maio de 2008

“Entre a cruz e a sanfona”

Prefeitura proíbe forró em praça para preservar capela


24.04.2007 - SÃO PAULO - Decisão provoca polêmica que já chegou à Câmara; Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, conhecida como Praça do Forró, tinha shows desde os anos 60.
Entre a cruz e a sanfona. Os moradores de São Miguel Paulista, na zona leste, vivem o dilema de decidir se a mais famosa praça da região é da fé ou da farra. Se o local deve justificar o seu nome oficial, Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, ou abraçar o apelido, Praça do Forró.
No último mês de março, a subprefeitura da região fez sua opção. A praça foi totalmente reformada. O palco que existia por lá, em forma de chapéu de couro, foi demolido - e os shows já estão suspensos. De acordo com o subprefeito Décio José Ventura, “as duas destinações da praça eram incompatíveis”.
A partir de agora, a estrela da praça é a Capela São Miguel Arcanjo, uma construção de 1622, tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. A preservação dessa capela foi a principal justificativa para o fim do forró. “Há alguns anos, um show de grande porte na praça fez com que algumas pessoas subissem no telhado da capela. Um absurdo. Foi o que nos fez pensar em mudar as coisas por lá”.

Mas um hábito não se muda por decreto. Freqüentadores da praça estão divididos quanto à atitude da subprefeitura. “Os shows aqui eram uma tradição. Um jeito de divulgar nossa cultura”, diz Jocemar da Silva, de 43 anos. “Eu prefiro assim. A praça ficou mais gostosa, bonita e segura”, rebateu Claudiomar Lisboa, de 63.
O presidente da Associação Amigos da Praça do Forró, o sanfoneiro Cícero do Norte, de 69 anos, não se agüenta de tanta tristeza. A praça é seu espaço de reunião e música desde 1965. “Quiseram humilhar a gente. Mas eu tenho sangue nordestino. Não desisto. O bairro é nordestino, não foi justo. Foi preconceito da Prefeitura. As pessoas vão continuar chamando esse lugar de Praça do Forró”.
Já o pároco da Catedral de São Miguel, o padre Geraldo Antônio Rodrigues, tenta contemporizar. “Eu não tenho nada contra o forró. O forró é bom. Melhor do que essas músicas de bandido que tem por aí. O problema é que o palco não era só usado para shows. Ele era usado pra tudo. Tinha muito malandro por lá”.
A polêmica sobre o fim da Praça do Forró chegou à Câmara. O vereador João Antônio (PT) diz que a medida foi “autoritária”. “Acabaram com uma tradição sem consultar a população. Deixaram a praça sem identidade.”
O subprefeito Ventura garante que um novo local será destinado ao forró. “Já temos um terreno em vista, às margens da Jacu-Pêssego. É o Parque Primavera, que, embora reconhecido como parque, ainda não funciona como tal. São 110 mil metros quadrados, com espaço para shows e estacionamento.”
O lugar já foi um aterro sanitário. A Cetesb trabalha no local para saber se não há vestígios de contaminação ou gases tóxicos. Enquanto isso, o restauro da Capela São Miguel Arcanjo continua. A previsão é de que ela seja entregue em setembro.
Uma equipe de arqueólogos trabalha na recuperação de instrumentos indígenas encontrados no entorno da capela. Os “amigos do forró” também estão tocando a vida. Em uma provocação velada, abandonaram a praça e foram tocar em um restaurante localizado ao lado de uma Igreja Universal. “Os pastores gostam do forró e tratam a gente muito bem, disse Cícero do Norte.

Fonte: Estadão

[Os destaques em negrito são meus.]

* * *

É, tá certo que não é uma notícia nova, além de eu nem saber como é que está a “praça do Forró” atualmente, já que me mudei de São Miguel faz seis anos, porém o que sei é que a justiça foi feita, porque não se pode ignorar a história do bairro em troca de um “populismo cultural” para ganhar votos.
Uma construção de 1622 não pode ser deixada se deteriorando.
Nessa praça já vi de tudo, desde trombadinha até traveco, sem falar naquelas tias de quarenta e tantos anos que ficam “fazendo ponto” em plena luz do dia.
Apesar de ser um bairro da periferia, lá da zona leste da capital paulista, São Miguel Paulista, a antiga aldeia indígena de Ururaí, tem uma importância enorme na história do município de São Paulo, pois foi a estratégica localização às margens do rio Tietê que ajudou muito no trabalho missionário dos jesuítas e na expansão dos bandeirantes.

“Mas eu tenho sangue nordestino”, reclama o tiozinho que toca sanfona.

Nordestino por nordestino, eu também tenho sangue nordestino, pois sou filho de cearenses, apesar de ser paulista. Isso não significa que vou querer que a degradação de um objeto histórico (a “igreja velha”) aconteça só para que determinado grupo étnico seja bajulado.
Há que se ter o bom senso e a razão. Se derrubaram mesmo aquele palco horroroso, então fizeram o certo, porque aquele troço bem no meio da praça ficava bem fora de contexto.
Agora o detalhe: “(...) foram tocar em um restaurante localizado ao lado de uma Igreja Universal”.
“Suspeitei desde o princípio”! Sempre tem algum caso envolvendo os macedistas, que são mestres em ludibriar os incautos.

“‘Os pastores gostam do forró e tratam a gente muito bem’, disse Cícero do Norte.”.

É claro, para esses lobos travestidos de ovelhas, vale tudo se for preciso ganhar fiéis a qualquer preço, ainda mais se for contra a Igreja Católica. Se fosse a “Praça do Heavy Metal”, os pastores da Universal iriam gostar de metal pesado, só para agradarem as pessoas.
Detalhe: de um lado da praça tem a catedral de São Miguel Arcanjo, sede da diocese, de outro tem um templo da Universal, onde há muitos anos funcionava o antigo Cine Lapenna.
Que coinicidência!
E quanto ao Parque Primavera, tem mais é que transformá-lo em área de lazer e cultura para a população mesmo, já que morei bem na frente dele, e sofri os incômodos do mau cheiro e dos ratos, no tempo em que ele era um lixão.

Fontes de consulta:

http://www.portalanjo.com/portal_artigos/inicio.php?secao=materia&id=1883

http://www2.prefeitura.sp.gov.br/noticias/ars/sao_miguel_paulista/2005/09/0005

http://portal.prefeitura.sp.gov.br/subprefeituras/spmp/dados/historico/0001

http://www.panoramio.com/photo/652666

http://www.miltonjung.globolog.com.br/archive_2007_11_23_25.html

Um comentário:

Unknown disse...

Que legal!
Gostei muito dessa postagem!
Parabéns!