quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Tempinho chato esse, não?

Esta não é a primeira vez que me queixo do politicamente correto aqui no blogue, e muito provavelmente não será a última.
Uma coisa me chamou a atenção há alguns dias, quando uma aluna minha, no auge dos seus dezesseis anos, em um debate que acabou surgindo durante a aula me falou:
“Professor, acho esse tempo atual muito paia. É muito cheio de frescura, ninguém pode dizer nada que os outros já se ofendem!”
Isso saiu depois que um outro aluno, já um cidadão de quase trinta anos, disse um termo politicamente correto para referir-se aos chamados deficientes em geral, “portadores de necessidades especiais”.
Respondi a ela que achava isso uma grande frescura mesmo, como grande frescura é chamar os que infelizmente são cegos e surdos de “deficientes visuais” e “deficientes auditivos”, respectivamente, ou mesmo dizer que não existem paralíticos, e sim “paraplégicos”.
Creio que “amenizar” os termos não trará a cura plena aos atingidos por alguma limitação, e que não é com palavrinhas carameladas que a inclusão se dará, pois tal coisa só ocorrerá quando o povo tomar vergonha na cara e ter respeito para com o deficiente.
Por que digo isso? Porque tenho uma irmã que é autista, e tanto ela como minha mãe, ao irem para o Hospital das Clínicas de São Paulo, sofreram com a falta de educação de muita gente no ônibus e no metrô.
Outra coisa politicamente correta que virou moda foi chamar negro de "afro-descendente", o que é uma grande bobagem, já que nem todos os povos africanos têm a pele escura, basta ver os árabes e berberes do norte da África. O Zinedine Zidane, que é branco e tem olhos claros, é tão afro-descendente quanto o Pelé.
Mais um eufemismo cheio de não-me-toques é dizer que concubinato ou amasiamento é "relação estável". Estável por quanto tempo? E isso sem falar nos ditos "casais" homossexuais. Ora, um casal é formado por duas pessoas ou animais de gêneros diferentes, nunca iguais! Isso é o básico do bom senso que é desprezado; diga-se dupla guey [por que não aportuguesarmos o vocábulo?] ou par guey, nunca casal.
Resumindo: vivemos numa época de chatice extrema, onde até o clero modernista deixou-se levar por essa onda, trocando o chamamento à conversão e a fuga do pecado, pelas musiquinhas carameladas de romantismo barato e solos de violão na santa missa.

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Paia: não sei se existe em outras regiões do país, mas a palavra paia, na gíria daqui do norte do Ceará significa, mais ou menos, algo ruim ou chato.

3 comentários:

Profª Adriana Monteiro disse...

Mó paia mesmo!!!


Falando em escola, durante as aulas de história no 3º ano fizemos essa reflexão ao estudar as Revoltas que marcaram o período da República Velha.

Falta no povo brasileiro hoje a garra e coragem de Antonio Conselheiro, João Cândido, dentre tantos outros que bravamente resistiram e contestaram a ordem vigente.

Hoje nos conformamos com o que vemos e já nem nos animamos a ao menos discordar. Abaixamos a cabeça e levamos no lombo!

Realmente... Esse tempinho tá muito chato...

O Insuspeito disse...

Excelente consideração! Depois há os eufemismos ainda piores,como a "Interrupção Voluntária da Gravidez", a "morte por compaixão"...

É como o "dar à luz"!. Tive, uma vez um professor de Português que se irritava com essa expressão. De facto, hoje partilho da sua opinião. Para quê por um eufemismo numa coisa já de sei tão bela? O verbo "parir" é o correcto e não se aplica só aos animais.

Coisas da sociedade moderna, enfim!

Parabéns pelo blog, sou leitor diário!

Um abraço a todos, vindo de Portugal, Terra de Santa Maria!

Evandro Monteiro disse...

Adriana: pois é, pois é, pois é... O ruim na História é que se alguém vê alguma luta antiga, já vai bitolar na cabeça do povo que tal 'revoltoso' era marxista.

João Cadete: eu agradeço pela vossa assiduidade, e essa questão do 'dar à luz' é bem sintomática mesmo, tem mulher grávida que se ofende, ao ser perguntada quando vai parir. Saudações lusófonas daqui do ultramar.